sábado, 15 de maio de 2010
A ascenção ao poder
Após sua prisão devido ao comando do Putsch da Cervejaria, Hitler foi considerado relativamente inofensivo e anistiado, sendo libertado da prisão em Dezembro de 1924. Por este tempo, o partido nazista mal existia e Hitler necessitaria de um grande esforço para o reconstruir.
Nestes anos, ele fundou um grupo que mais tarde se tornaria um dos seus instrumentos fundamentais na persecução dos seus objetivos. Uma vez que o Sturmabteilung ("Tropas de choque" ou SA) de Röhm, não eram confiáveis e formavam uma base separada de poder dentro do partido, ele estabeleceu uma guarda para sua defesa pessoal, a Schutzstaffel ("Unidade de Proteção" ou SS). Esta tropa de elite em uniforme preto seria comandada por Heinrich Himmler, que se tornaria o principal executor dos seus planos relativamente à "Questão Judia" durante a Segunda Guerra Mundial.
Criou também numerosas organizações de filiação (Juventudes Hitleristas, associações de mulheres, etc.). O Partido nazi teve em 1929 uma progressão semelhante à do partido fascista de Benito Mussolini, beneficiando-se do mal-estar econômico, político e social decorrente da derrota de 1918 e, depois, da crise de 1929.
Um elemento vital do apelo de Hitler era o sentimento de orgulho nacional ofendido pelo Tratado de Versalhes imposto ao Império Alemão pelos aliados. O Império Alemão perdeu território para a França, Polónia, Bélgica e Dinamarca, e teve de admitir a responsabilidade única pela guerra, desistir das suas colónias e da sua marinha e pagar uma grande soma em reparações de guerra, um total de $6.600.000 (32 biliões de marcos). Uma vez que a maioria dos alemães não acreditava que o Império Alemão tivesse começado a guerra e não acreditava que havia sido derrotado, eles ressentiam-se destes termos amargamente. Apesar das tentativas iniciais do partido de ganhar votos culpando o "judaísmo internacional" por todas estas humilhações não terem sido particularmente bem sucedidas com o eleitorado, a máquina do partido aprendeu rapidamente e em breve criou propaganda mais sutil - que combinava o Antissemitismo com um ardente ataque às falhas do "sistema Weimar" (a República de Weimar) e os partidos que o suportavam. Esta estratégia começou a dar resultados.
Hitler em desfile da Sturmabteilung em 1932Historiadores afirmam que uma propaganda demagógica, que explorava habilmente essas frustrações e o sentimento anti-semita generalizado da sociedade alemã da época, apresentando os judeus como bode expiatório dos problemas sociais, permitiu aos nazistas implantarem-se na classe média e entre os operários, ao mesmo tempo em que o abandono do programa social inicial lhes trazia o apoio da classe dirigente e dos meios industriais.
O ponto de virada em benefício de Hitler veio com a Grande Depressão que atingiu a Alemanha em 1930. O regime democrático estabelecido na Alemanha em 1919, a chamada República de Weimar, nunca tinha sido genuinamente aceita pelos conservadores e tinha a oposição aberta dos fascistas.
Os sociais democratas e os partidos tradicionais de centro e direita eram incapazes de lidar com o choque da depressão e estavam envolvidos no sistema de Weimar. As eleições de Setembro de 1930 foram uma vitória para o partido Nazi, que de repente se levantou da obscuridade para ganhar mais de 18% dos votos e 107 lugares no "Reichstag" (parlamento alemão), tornando-se o segundo maior partido. A sua subida foi ajudada pelo império de mídia controlado por Alfred Hugenberg, de direita.
Hitler ganhou sobretudo votos entre a classe média alemã, que tinha sido atingida pela inflação dos anos 1920 e o desemprego oriundo da grande depressão. Agricultores e veteranos de guerra foram outros grupos que apoiaram em especial os nazistas. As classes trabalhadoras urbanas, em geral, ignoraram os apelos de Hitler. As cidades de Berlim e da Bacia do Ruhr (norte da Alemanha protestante) eram-lhe particularmente hostis.
A eleição de 1930 foi um desastre para o governo de centro-direita de Heinrich Brüning, que estava agora impossibilitado de obter qualquer maioria no Reichstag, e teve de contar com a tolerância dos sociais democratas (esquerda) e o uso de poderes presidenciais de emergência para permanecer no poder. Com as medidas de austeridade de Brüning mostrando pouco sucesso face aos efeitos da depressão, o governo teve receio das eleições presidenciais de 1932 e procurou obter o apoio dos nazis para a extensão do termo presidencial de Paul von Hindenburg, mas Hitler recusou qualquer acordo, e acabou por competir com Hindenburg na eleição presidencial, obtendo o segundo lugar na primeira fase da eleição, e obtendo mais de 35% dos votos na segunda fase, em abril, apesar das tentativas do ministro do interior Wilhelm Gröner e do governo social-democrata prussiano para restringir as atividades públicas nazistas, incluindo notoriamente a proibição das SA.
Os embaraços da eleição puseram fim à tolerância de Hindenburg para com Brüning, e o velho marechal-de-campo demitiu o governo, nomeando um novo governo sob o comando do reacionário Franz von Papen, que imediatamente revogou a proibição das SA e convocou novas eleições do Reichstag.
Nas eleições de Julho de 1932, os nazistas tiveram o seu melhor resultado até então, obtendo 230 lugares no parlamento e tornando-se o maior partido alemão. Uma vez que nazistas e comunistas detinham a maioria do Reichstag, a formação de um governo estável de partidos do centro era impossível e no seguimento do voto de desconfiança no governo Papen, apoiado por 84% dos deputados, o parlamento recém-eleito foi dissolvido e foram convocadas novas eleições.
Papen e o Partido do Centro tentaram agora abrir negociações assegurando a participação no governo, mas Hitler fez grandes exigências, incluindo o posto de Chanceler e o acordo do presidente para poder usar poderes de emergência de acordo com o artigo 48 da Constituição de Weimar. Esta falha em formar um governo, juntamente com os esforços dos Nazis de ganhar o apoio da classe trabalhadora, alienaram parte do apoio de prévios votantes, de modo que nas eleições de Novembro de 1931, o partido nazista perdeu votos, apesar de se manter como o maior partido do Reichstag.
Uma vez que Papen falhara na sua tentativa de assegurar uma maioria através da negociação e trazer os nazistas para o governo, Hindenburg demitiu-o e nomeou para o seu lugar o General Kurt von Schleicher, desde há muito uma figura influente e que recentemente ocupara o cargo de Ministro da Defesa, que prometeu assegurar um governo maioritário com negociações quer com os sindicatos sociais democratas quer com os dissidentes da facção nazi liderada por Gregor Strasser.
Enquanto Schleicher procurava realizar a sua difícil missão, Papen e Alfred Hugenberg, que era também presidente do Partido Popular Nacional Alemão (DNVP), o maior partido de direita da Alemanha antes da ascensão de Hitler, conspiravam agora para convencer Hindenburg a nomear Hitler Chanceler numa coligação com o DNVP, prometendo que eles o iriam controlar. Quando Schleicher foi forçado a admitir a falha dos seus esforços, e pediu a Hindenburg para dissolver novamente o Reichstag, Hindenburg demitiu-o e colocou o plano de Papen em execução, nomeando Hitler Chanceler, Papen como Vice-Chanceler e Hugenberg como Ministro das Finanças, num gabinete que ainda incluía três Nazis - Hitler, Göring e Wilhelm Frick. A 30 de Janeiro de 1933, Adolf Hitler prestou juramento oficial como Chanceler na Câmara do Reichstag, perante o aplauso de milhares de simpatizantes nazistas.
Adolf Hitler (centro) e seu gabinete em 30 de janeiro de 1933Mas Hitler ainda não tinha cativado definitivamente a nação. Ele foi feito Chanceler numa designação legal pelo presidente Hindenburg, o que foi uma ironia da história, uma vez que os partidos do centro tinham apoiado o presidente Hindenburg por ele ser a única alternativa viável a Hitler, não prevendo que seria Hindenburg que iria trazer o fim da República.
Mas nem o próprio Hitler nem o seu partido obtiveram alguma vez uma maioria absoluta. Nas últimas eleições livres, os nazis obtiveram 33% dos votos, obtendo 196 lugares num total de 584. Mesmo nas eleições de Março de 1933, que tiveram lugar após o terror e violência terem varrido o Estado, os nazis obtiveram 44% dos votos. O partido obteve o controle de uma maioria de lugares no Reichstag através de uma coligação formal com o DNVP. No fim, os votos adicionais necessários para propugnar a lei de aprovação do governo - que deu a Hitler a autoridade ditatorial - foram assegurados pelos nazistas pela expulsão de deputados comunistas e da intimidação de ministros dos partidos do centro. Numa série de decretos que se seguiram pouco depois, outros partidos foram suprimidos e toda a oposição foi proibida. Em poucos meses, Hitler tinha adquirido o controle autoritário do país e enterrou definitivamente os últimos vestígios de democracia.
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